quarta-feira, 5 de agosto de 2009


Para começar, é preciso dizer que ela sempre chegava atrasada. Mesmo quando ela não perdia o outro pé do tênis dentro do armário, mesmo quando ela não pegava o ônibus errado, mesmo quando a mãe dela não ficava fazendo discursos na porta de casa, mesmo quando ela conseguia escolher, rapidamente, a roupa que agradaria os olhos dele. Ela se atrasava.
Não era falta de consideração, distúrbios mentais ou compromissos inadiáveis. Era, simplesmente, para poder chegar minutos depois dele e poder ficar observando os detalhes: o modo como ele se encostava no portão de casa, de como estalava os dedos, de como olhava o relógio, de como tinha paciência com a vizinha, de como o vento carregava o seu cheiro de banho tomado e um pouco de cigarro. Era para ter certeza que ali era onde ela deveria estar.
Depois desses segundos secretos, ela chegava com cara de despreocupada, com um sorriso fino e uma desculpa na ponta da língua - manter seguro o seu segredo era primordial.

E mesmo nos dias em que ela tinha tempo e podia chegar antes do combinado, ela não ia. Sentava na escada e esperava a hora certa. Não aguentaria ficar esperando sem ter certeza se ele viria ou não.Morreria se ele não viesse, mas negaria até a morte isso.

1 comentários:

alana. disse...

aaaaaaa, eu ADOREI!

antes eu tinha isso de negar até a morte, mas agora, ao menor sinal de perigo.. é só um cachorro latir, uma luz se apagar, uma buzina tocar, eu já saio confessando tudo e agora eu quase não aguento mais ficar esperando aqui.. sem ter a certeza que ele vem. será que ele espera sentado na escada?