domingo, 29 de março de 2009


Matutava matutava
roendo os dedos agora
cobertos de berrugas de
tanto apontarem Estrelas.

Mário Quintana.

sábado, 28 de março de 2009


"Ela fazia muitos planos."

De repente, ou quase de repente, ela percebeu que não fazia mais planos.
Segurou-se ao óbvio e objetivo, então caminhou.
Nada mais lhe magoava ou surpreendia verdadeiramente.
Sem perdas, sem ganhos.
Apenas aquilo. Apenas ela. Apenas a falta dela.
Anestesia, indiferente, desinteressada ou apática - são vários os adjetivos para mostrar apenas uma coisa: ela não vivia mais ali.
Medo ou covardia, ninguém sabe. Ela fugiu, foi para outro lugar ou para outra estação.
Talvez um dia ela volte, a porta ficou aberta, mas não há ninguém lá dentro, apenas o óbvio e o objetivo.

domingo, 22 de março de 2009


"Fico tão cansada às vezes, e digo para mim mesma que está errado,que não é assim, que não é este o tempo, que não é este o lugar, que não é esta a vida."

sábado, 21 de março de 2009


Era uma menina que gostava de inventar uma explicação para cada coisa.

Explicação é uma frase que se acha mais importante do que a palavra.
Solidão é uma ilha com saudade de barco.
Saudade é quando o momento tenta fugir da lembrança pra acontecer de novo e não consegue.
Lembrança é quando, mesmo sem autorização, seu pensamento reapresenta um capítulo.
Pouco é menos da metade.
Muito é quando os dedos da mão não são suficientes.
Angústia é um nó muito apertado bem no meio do sossego.
Agonia é quando o maestro de você se perde completamente.
Preocupação é uma cola que não deixa o que não aconteceu ainda sair de seu pensamento.
Indecisão é quando você sabe muito bem o que quer mas acha que devia querer outra coisa.
Intuição é quando seu coração dá um pulinho no futuro e volta rápido.
Ansiedade é quando faltam cinco minutos sempre para o que quer que seja.
Indiferença é quando os minutos não se interessam por nada especialmente.
Interesse é um ponto de exclamação ou de interrogação no final do sentimento.
Lucidez é um acesso de loucura ao contrário.
Razão é quando o cuidado aproveita que a emoção está dormindo e assume o mandato.
Emoção é um tango que ainda não foi feito.
Vontade é um desejo que cisma que você é a casa dele.
Desejo é uma boca com sede.
[...]

Adriana Falcão.

sábado, 14 de março de 2009


Ah, que esta vida é automática!
Estou exausto da gravitação dos astros!
Vou dar um tiro neste poema horrível!
Vou apitar chamando os guardas, os anjos, Nosso
Senhor, as prostitutas, os mortos!
Venham ver a minha degradação,
A minha sede insaciável de não sei o quê,
As minhas rugas.
Tombai, estrelas de conta,
Lua falsa de papelão,
Manto bordado do céu!
Tombai, cobri com a santa inutilidade vossa
Esta carcaça miserável de sonho...

-Mário Quintana.

Por sua culpa eu saí da inércia, voltei a sentir vontade de viver, vontade de sair desse cotidiano horrível.
Mas não está dando certo.
E agora, o que eu faço com essa vontade?
Estou cansada de escrever sobre as minhas lamúrias.
Mas o que eu posso fazer se elas me amam?

sexta-feira, 13 de março de 2009



As vezes, penso escutar sussurros com a sua voz.
As vezes, eu penso várias coisas.
As vezes, eu penso que nem deveria estar pensando sobre essas coisas.
Mas isso é só as vezes, sabe.
Não me preocupo muito com esses pensamentos.
Porque você sabe...
Entre os "as vezes" existe a "maior parte do tempo".

domingo, 8 de março de 2009


Existem momentos que eu tenho uma intensa vontade de escrever, de colocar no papel, no tangível toda essa volúpia de sentimentos e idéias. Por vezes, acabo me frustrando, pois são tantos pensamentos velozes vindo de encontro, que não consigo expressar nenhum (preciso de um filtro mental).
Nesses momentos, procuro o primeiro papel e a primeira caneta. Tento escrever as idéias mais cruas, mais primárias, porém a vontade é tanta que me perco, me desvio e acabo por escrever coisas vagas, palavras soltas ou nada.

Talvez eu tenha uma inspiração um tanto quanto romântica, que só floresce diante situações dramáticas ou sentimentalóides - um problema isso.
Porém, escrevo porque o instante existe.

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"Sei que fico um tanto ridículo falando nesse tom, mas não consigo evitá-lo:quando se quer explicar o inexplicável sempre se fica um pouco piegas."

sábado, 7 de março de 2009



"Mas há uma diferença entre você saber intelectualmente da inutilidade das procuras, da insaciabilidade — vixe, que palavra! — do corpo e conseguir passar isso para o seu comportamento — tornar ato o que é pensamento abstrato. Os caminhos são individuais/intransferíveis."

INTRANSFERÍVEIS.

domingo, 1 de março de 2009


"...- Oi-disse ela-Acabei de ser criada.Sou completamente ignorante em relação ao Universo, em todos os sentidos.Será que você pode me explicar alguma coisa?
- Puxa-murmurou Ford, um tanto perplexo-Bom,acho que posso te indicar uns bares.
- E sobre o amor e felicidade?Sinto uma profunda necessidade de coisas assim-disse a criatura, balançando os tentáculos-Alguma dica?..."

Até mais, e obrigado pelos peixes!-Douglas Adams

Tenho tantas necessidades, tão primárias e bestas que mal posso pensar em como supri-las no meio desses dias tão complicados.

Sabe aqueles momentos em que tudo, praticamente tudo ou aparentemente tudo está caminhando em direção ao caos?
Quando suas idéias e seus princípios começam a se subverter contra você?
Quando parece que há uma conspiração cósmica engajada, simplesmente, em ferrar (estou sendo eufêmica, claro) com os seus planos?
Bem, eu sei.

Talvez seja tudo uma grande crise besta, gerada por insegurança e excesso de hormônios.Talvez não. Quem sabe?
É difícil ver com clareza quando se está no olho do furacão- um furacão pessoal, feito sob medida- só meu (a redundância é válida nessas horas).
O que eu posso fazer?
Me concentrar e segurar minhas partes vitais para que elas não sejam lançadas por aí como prova do meu fracasso?
Ficar a deriva, esperando que o furacão passe e que surja um lindo e besta dia de sol (porque o sol sempre vem-não é o que dizem?) ?
Não sei, sinceramente.