sábado, 27 de fevereiro de 2010


Ela se esforçava, teatralmente, para se manter ereta durante esses longos dias quentes. A cada baforada da aurora, a única coisa que ela pensava era na nova ordem: manter-se plena e lúcida.
Havia se entorpecido por um longo período de inverno na sua vida; um inverno tão intenso e tempestuoso que arrastou janeiros, junhos, margaridas e devaneios.
Ela que se fez semente latente, agora, sofre com as dores do mundo, com as carícias sedentas da vida. Mazelas sentidas à carne viva, sangue quente, mente dilatada, olhos famintos, ouvidos abstinentes, coração fumegante e mãos implacáveis. Sentia tudo isso com o prazer de um faminto saciado e com o pavor de um recém saído do ventre materno.
Sim, ela sabia o quê estava acontecendo alí, não era só o calor que a consumia. Desejo também corrói. Desejava, apaixonadamente, tudo o que havia sido estéril no alcance das suas terras e além mar. Desejava a intensidade e a efemeridade de cada flor do reino. Desejava, alucinadamente, a si mesma.

Renasceu após o seu sétimo inverno. Renasceu queimando.