domingo, 27 de setembro de 2009


Vazio mental, exatamente isso. Queria poder abdicar do meu estado de ser pensante, pelo menos por alguns dias. Todas as minhas tentativas de esvaziar a minha mente foram frustrantes. Quando pensava que estava conseguindo a paz de mim mesma, já estava pensando exatamente naquilo que eu não queria. Bem, e esse processo se estende por toda uma longa noite ou longos dias, dependendo do desespero.
Sabe, essa dádiva de pensar está mais pra presente de grego.

sábado, 26 de setembro de 2009


o mais total interdito.

sábado, 19 de setembro de 2009


Criava expectativas como quem cria coelhos. Dava abrigo, proteção e alimento, principalmente alimento, podia faltar tudo menos isso. E, assim, com a mesma devoção com que ela os alimentava, eles se reproduziam. Se duplicavam, se criavam, se recriavam. Ocupavam todo o espaço físico, visual e mental. Consumiam sua criadora com a mesma voracidade que consumiam as suas folhas.
Mas chegou um dia que não havia mais espaço para tantos, não havia mais criadora para tantos.
Tudo era coelhos. Tudo era expectativas. Tudo era o caos.
Então, na fragilidade do momento, chegou uma praga qualquer, uma deficiência qualquer e dizimou todos com a mesma velocidade com que surgiram.
Tudo ficou árido. Tudo ficou vazio.Tudo se desfez, menos ela.
Ela que de consumida passou a ser consumidora. Adubou a terra estéril. Plantou uma flor, uma alfafa e um sonho. E logo apareceu um coelho. Dois coelhos. Dez coelhos. Mil expectativas. O caos.

domingo, 13 de setembro de 2009


Habituou-se ao cotidiano de despertadores, afazeres e caminhos. Aninhou-se na previsibilidade dos fatos e moldou-se as horas. Se satisfazia, facilmente, com as mesmas coisas, simplesmente pela ideia de estar protegida do inesperado, das variantes da vida.
Num dia tudo, no outro nada. Num dia sim, no outro não.
E nesse ritmo de alta produtividade, mas baixa qualidade, ela se perdeu em si. Emitia sons de mesma frequência. Produzia sentimentos de mesmo formato - repetia até os erros.
Mergulhou no senso comum e saiu de linha de produção.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009


Em meio a infinitude do firmamento, ao desconsolo do meu coração, ao furacão dos meus pensamentos, ao descompasso dos meus atos. Durante o arrastar de uma noite, a única coisa que se fazia visível era você sentado na beira da minha cama.
Eu mal podia ver as minhas mãos, mas enxergava muito bem o seu rosto calmo, como se já soubesse o que iria encontrar. Já eu estava apavorada. Você não sabe como eu ainda fico nervosa com você. Nervosa de amor. Nervosa de rancor. Nervosa de saudade.
Saudade do tempo que quem chegava pelos sonhos era eu. Saudade de quando ficávamos refugiados no seu quarto, imersos nos nossos planos, nos nossos conselhos mútuos, em nós.
Mas, dessa vez, quem chegou foi você, varando um noite muda e difícil. E mudos também ficamos, e o silêncio, que antes era reconfortante, agora me dilacerava a cada hora sem uma palavra. Foi dessa forma como a noite se arrastou. Então, quando eu já estava decidida a te negar a minha atenção, quando o princípio de claridade já começava a incomodar o minha vista cansada, você sorriu pra mim e disse pra eu ter fé.
Mas fé em quê? Você sabe que eu tenho problemas em ter fé. Eu tinha fé em nós, meu bem, e veja só. Você poderia ter passado a noite toda me dizendo como fazer isso, eu te escutaria, você sabe disso. Mas você se limitou a essa frase e a um sorriso terno.
Então, pelo menos nas primeiras horas daquele dia, eu tive fé, certeza. Porque fé, quando não se tem, se inventa.