Ele se disfarça de carrasco, sargentão, frio e calculista; mas aparece no meu quarto, num fim de domingo deprimente, com a desculpa de querer saber se eu estou com febre só para perguntar o porquê da minha tristeza. Sim, ele é o meu pai.
Fazemos a típica dupla de compreensivos incompreendidos. Ele com as regras, eu com a rebeldia. Ele negando, eu esfregando na cara. Ele sentindo ciúmes, eu com desapego.
Ele é o único que respeita meu mau humor matinal e que aceita meu gosto por cores frias. Ele, também, é o único que consegue gerar as minhas piores crises.
E, quando as tardes de estudo já estão virando um suicídio, ele entra no meu quarto e tenta, frustradamente, lembrar e me explicar física, e eu finjo que entendo só para a felicidade dele.
E nesse meio tempo, de quase duas décadas, eu seria muito injusta se dissesse que ele não é um bom pai, apesar dos pesares. Seria tão injusta quanto ele quando diz que eu não estudo.
Mas a vida é uma via de mão dupla, como ele sempre diz.
E eu sempre pergunto por que a via dele está sempre interditada pra mim. Então, ele ri, negando com a cabeça; porque ele sabe que já encontrou toda a força armada, muros e fios de alta-tensão na minha via.
E, assim, a gente segue nesse tango argentino. Um dia beijos, no outro, tapas; mas sempre com a mesma certeza - a nossa certeza.
Dead is not dead, nor I.
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