domingo, 30 de agosto de 2009
Não, não me olhe desse jeito estranhamente, falsamente cativante. Não, não e não. Dessa vez você não vai sentar aqui do meu lado, não vai me contar as suas histórias de meu-bem-querer, não vai cantarolar ao pé do meu ouvido justamente o que eu quero ouvir. Esse seu jeito todo complacente de ser quase me seduz, mas, no final, apenas me deixa com uma fome monstruosa de tudo o que você me oferece, mas que as minhas mãos não têm capacidade de segurar ou os meus olhos de ver.
Mas, por favor, não me olhe com essa cara de renegada e incompreendida. Eu não nego que já te aceitei mil vezes, te chamei pelo nome, te peguei pela mão e deixei minhas lamúrias mais bonitas com você. Eu sei. E você também sabe; sabe todos os buracos que me deixou e todas as horas perdidas apenas pensando em você.
Então, hoje você pode ir, não adianta nem começar a gastar as suas palavras bem colocadas e nem os seus melhores gracejos.
Hoje eu não estou pra você, expectativa.
O desejo insiste
E desaba em mim
Segue com meus passos
Come com meus dentes
(porque hoje é dia.)
sábado, 29 de agosto de 2009
Toda mudança é complicada, fato. Isso fica óbvio quando eu me deparo com aquelas coisas que ficam bem no fim do armário, estrategicamente guardadas para evitar qualquer desventura nostálgica, qualquer percepção errada do que foi, do que é ou do que será.
Mas mudar é assim mesmo... Perceber que aquela faxina já deveria ter sido feita. Ver que certos sonhos já não te cabem tão bem e que está na hora de mudar o estilo. Descobrir aquela sua camisa, no final da gaveta, e perceber que nenhuma limpeza de mudança é capaz de arrumar certas coisas. É encontrar aquele cd e perceber ele não te encanta como antes. É tentar reciclar lembranças, mesmo aquelas que tem bem explícito na embalagem: não reutilize essa embalagem após o uso do produto. É perceber que o seu armário tinha muito mais espaço do que você imaginava e que aquele livro ou cd novo foi descartado apenas por apego ao antigo, ao óbvio.
Então, mudar é isso... desfazer-se de si para ser você mesmo, de verdade. E torcer para que o próximo armário seja bem grande.
domingo, 23 de agosto de 2009
sábado, 15 de agosto de 2009
domingo, 9 de agosto de 2009
Dad is not dead.
Ele se disfarça de carrasco, sargentão, frio e calculista; mas aparece no meu quarto, num fim de domingo deprimente, com a desculpa de querer saber se eu estou com febre só para perguntar o porquê da minha tristeza. Sim, ele é o meu pai.
Fazemos a típica dupla de compreensivos incompreendidos. Ele com as regras, eu com a rebeldia. Ele negando, eu esfregando na cara. Ele sentindo ciúmes, eu com desapego.
Ele é o único que respeita meu mau humor matinal e que aceita meu gosto por cores frias. Ele, também, é o único que consegue gerar as minhas piores crises.
E, quando as tardes de estudo já estão virando um suicídio, ele entra no meu quarto e tenta, frustradamente, lembrar e me explicar física, e eu finjo que entendo só para a felicidade dele.
E nesse meio tempo, de quase duas décadas, eu seria muito injusta se dissesse que ele não é um bom pai, apesar dos pesares. Seria tão injusta quanto ele quando diz que eu não estudo.
Mas a vida é uma via de mão dupla, como ele sempre diz.
E eu sempre pergunto por que a via dele está sempre interditada pra mim. Então, ele ri, negando com a cabeça; porque ele sabe que já encontrou toda a força armada, muros e fios de alta-tensão na minha via.
E, assim, a gente segue nesse tango argentino. Um dia beijos, no outro, tapas; mas sempre com a mesma certeza - a nossa certeza.
Dead is not dead, nor I.
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
O que dizer sobre uma manhã vazia e frustrante?
Nada. Todos, até mesmo as menininhas da Malhação ou os garotos super descolados dos seriados, têm uma manhã vazia e frustrante. Logo, nenhum mérito meu.
Agora, o que dizer de uma manhã vazia e frustrante gerada por decepções sentimentais antigas, daquelas que você insiste em acrescentar dois pontos naquele medonho ponto final, ham?
Burrice, isso sim. Não há meias palavras e nem eufemismo pra isso, é burrice e um ponto final bem redondo. Estragar um manhã que ainda nem começou - meu rosto ainda está com aquela deformação típica do travesseiro - por reflexos do passado.Ora, não.
Para ter noção do estrago, nem mesmo um clip do Jimi Hendrix com todas aquelas façanhas absurdas com a guitarra me deixou animada como antes. Nem mesmo descobrir que a Fernanda Takai tem um cd novo com músicas antigas - o quê não importa - me deixou satisfeita.Nem mesmo...
Não que minha manhã estivesse prometida a grandes feitos e emoções, na verdade, estava longe disso. Estragou minha rotina das manhãs de quinta-feira,não tomei meu café morno, não vi minha listas de afazeres, não vi o jornal e nem limpei o xixi do cachorro.
Tudo por causa das reticências, tudo porque eu acordei junto com o despertador hoje,tudo porque eu não sou tão esperta sem você e com você, assim, eu fico menos esperta ainda.
E o pior: ainda tenho uma manhã inteira de chuva e resquícios de 'be quiet and drive' tocando na minha mente.
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
Para começar, é preciso dizer que ela sempre chegava atrasada. Mesmo quando ela não perdia o outro pé do tênis dentro do armário, mesmo quando ela não pegava o ônibus errado, mesmo quando a mãe dela não ficava fazendo discursos na porta de casa, mesmo quando ela conseguia escolher, rapidamente, a roupa que agradaria os olhos dele. Ela se atrasava.
Não era falta de consideração, distúrbios mentais ou compromissos inadiáveis. Era, simplesmente, para poder chegar minutos depois dele e poder ficar observando os detalhes: o modo como ele se encostava no portão de casa, de como estalava os dedos, de como olhava o relógio, de como tinha paciência com a vizinha, de como o vento carregava o seu cheiro de banho tomado e um pouco de cigarro. Era para ter certeza que ali era onde ela deveria estar.
Depois desses segundos secretos, ela chegava com cara de despreocupada, com um sorriso fino e uma desculpa na ponta da língua - manter seguro o seu segredo era primordial.
E mesmo nos dias em que ela tinha tempo e podia chegar antes do combinado, ela não ia. Sentava na escada e esperava a hora certa. Não aguentaria ficar esperando sem ter certeza se ele viria ou não.Morreria se ele não viesse, mas negaria até a morte isso.