É incrível como os sentidos muitas vezes podem nos enganar, nos confortar e outras vezes brincar com a gente.
Hoje não foi diferente. Estava habitualmente no meu ônibus, ansiosa para voltar pra casa, depois de mais um dia de estudos e os meus sentidos começaram a brincar comigo.
A visão, como sempre, foi perturbada pelo cansaço de um dia inteiro. A audição não era as das melhores - me acostumei ao ruído urbano caótico. O tato não se desenvolvia além da minha bolsa. O paladar era o do final de uma bala de menta, mas o olfato...
O costumeiro cheiro de poluição não me chama mais atenção, senti até um cheiro muito agradável de comida, mas esse eu não quis manter porque a fome começava a me incomodar.
Foi então que, no meu estado meio adormecida, eu senti aquele cheiro conhecido; era o cheiro de uma pessoa muito querida, que não vem ao caso citar o nome.
O que importa é saber que esse cheiro penetrou tão rápido nas minhas narinas quanto as lembranças que penetravam a minha mente.
E assim eu fiquei. Com os olhos fechados, perdida nos meus pensamentos, nas minhas lembranças. Procurando sempre canalizar aquele cheiro tão agradavelmente familiar.
Por instantes, toda essa nostalgia olfativa me tirou daquele ônibus, me levou aos dias passados e, se eu não me engano, criou até um sorriso miúdo no meu rosto.
Sim, eu me deixei brincar pelos meus sentidos, afinal o caminho para casa é longo e o cheiro me acompanhou em todo o percurso; assim como eu sei que essas lembranças irão me acompanhar por longos caminhos.